Intolerância à lactose: sintomas, o que comer e o que evitar

Intolerância à lactose é o nome que se dá à incapacidade parcial ou total de digerir o açúcar do leite e seus derivados. Esse distúrbio pode causar alguns desconfortos, como diarreia, azia, náusea e dor de cabeça

Pesquisas científicas mostram que cerca de 70% da população adulta mundial apresenta algum grau de intolerância à lactose, que pode ser leve, moderado ou grave, de acordo com o tipo de deficiência apresentada. (1)

Sintomas de intolerância à lactose

Segundo a nutróloga Jaqueline Coelho, os sintomas mais comuns da intolerância à lactose são: desconforto na barriga, excesso de gases e dores abdominais, podendo ter também diarreia ou constipação intestinal. 

Mulher com copo de leite
Os desconfortos gastrointestinais são os sintomas mais frequentes da intolerância à lactose (Foto: depositphotos)

Outros sintomas que podem aparecer são: inchaço abdominal, cólicas, náuseas, vômitos, cãibras, ardor anal e assaduras; estes dois últimos provocados pela presença de fezes mais ácidas. (2)

Crianças pequenas e bebês portadores do distúrbio, em geral, perdem peso e crescem mais lentamente. (3)

A severidade dos sintomas depende da quantidade ingerida e da quantidade de lactose que cada pessoa pode tolerar. Eles podem levar de minutos a algumas horas para aparecer, sendo influenciados por alguns fatores, como: a taxa de esvaziamento gástrico e a característica física do alimento, ou seja, se é sólido ou líquido. (1)

Para descobrir o diagnóstico correto, temos alguns exames que podem ser feitos, sendo o mais comum o teste de tolerância à lactose, onde o paciente ingere uma porção de lactose e mede sua concentração na corrente sanguínea ao longo de duas horas”, explica Jaqueline.  

Fatores de risco e tipos

De acordo com a nutróloga, ainda não existem causas específicas para a intolerância à lactose. 

Na verdade não conhecemos bem a causa, algumas pessoas reduzem sua produção ao longo da vida. Por isso, é comum o aparecimento com o passar dos anos. Sabemos que alguns idosos possuem menos lactase do que adultos jovens, mas esse fenômeno não acontece com todos”, aponta Jaqueline. 

Porém, podemos classificar três tipos diferentes de intolerância à lactose. São eles: 

  • Congênita: herança genética que acomete recém-nascidos após a ingestão da lactose. Ou seja, a criança nasce sem condições de produzir a lactase. É um tipo mais raro, porém grave e que deve ser diagnosticado o quanto antes.
  • Primária: diminuição natural e progressiva na produção de lactase com o avanço da idade, que pode começar a partir da adolescência até o fim da vida. Esse é o tipo mais comum. 
  • Secundária: a produção de lactase é afetada por uma alteração do trato gastrointestinal decorrente de doenças, cirurgias e infecções. Dentre as doenças mais comuns estão: síndrome do intestino irritável, doença de Crohn e doença celíaca. Nesses casos, a intolerância pode ser temporária e desaparecer com o controle da doença de base. (2,4)

Além disso, os graus da intolerância à lactose variam de leves a graves. “Alguns pacientes toleram consumir alguns derivados sem sintoma algum, mas outros não toleram comer nada que contenha”, comenta a especialista. 

O que comer quando se tem intolerância à lactose

Sobre a alimentação adequada, Jaqueline diz que depende dos graus de intolerância. 

Leite e derivados
Em casos de intolerância à lactose, deve-se evitar o consumo do leite e de seus derivados, como o queijo e o iogurte (Foto: depositphotos)

“Pessoas com grau leve que gostam de consumir leite e derivados podem continuar consumindo pequenas porções se não tiverem sintomas. Quem não gosta ou tem intolerância grave deve trocar por extratos vegetais para manter a fonte proteica e de cálcio necessária”, orienta a especialista.

Alimentos proibidos

Os alimentos considerados proibidos são aqueles que contém leite ou derivados. “Mas somente se o paciente tiver sintomas”, ressalta Jaqueline. 

Dentre os alimentos que as pessoas com sintomas devem evitar estão: queijos, manteiga, requeijão, creme de leite, leite condensado e demais derivados de leite; assim como preparações à base de leite, como: bolos, pudins, sorvetes, cremes, mingaus, biscoitos etc.

Saber se o alimento tem lactose e em qual teor é fundamental para o paciente. Para os casos mais graves, encontra-se leite e outros produtos com redução de 80% a 100% da lactose. 

Além disso, existem medicamentos com a enzima lactase para o uso quando for preciso ingerir lactose em situações especiais. Esta enzima é encontrada em apresentações de pó, pílulas ou líquido e deve ser ingerida logo antes do alimento para a digestão da lactose.

O que é intolerância à lactose

Como falamos, a lactose nada mais é do que o açúcar presente no leite. Portanto, a intolerância à lactose é a incapacidade de digerir essa substância. “É a deficiência da enzima lactase, necessária para digestão da lactose”, complementa Jaqueline. 

Copo com leite de soja
Para os casos mais graves, a indicação é substituir o leite de vaca por leite de origem vegetal, como o de soja (Foto: depositphotos)

Esta enzima possibilita decompor o açúcar do leite em carboidratos mais simples, que proporcionam uma melhor absorção. A lactose é quebrada em dois açúcares menores, a galactose e a glicose, que são absorvidos no intestino delgado, alcançam a corrente sanguínea e, assim, são utilizados como fonte de energia pelas células. (1)

Portanto, com a deficiência da lactase, a lactose não é digerida e alcança o intestino grosso. Dessa forma, as bactérias do cólon metabolizam a lactose absorvida em gases que são responsáveis pelos sinais e sintomas da intolerância à lactose. (3)

Porém, é preciso ressaltar que a intolerância à lactose não é uma doença, e sim uma carência do organismo que pode ser controlada com dieta e medicamentos. A nutróloga acrescenta ainda que não existe forma de prevenção. 

Diferença entre intolerância à lactose e alergia ao leite 

Apesar de serem constantemente confundidas, é importante ter em mente que intolerância à lactose e a alergia ao leite não são a mesma coisa. Seus mecanismos fisiopatológicos são completamente diferentes. 

A alergia é uma resposta imunológica do organismo a algum componente alimentar, no caso às proteínas do leite da vaca e seus derivados. Ela pode provocar alterações no intestino, desencadeando reações alérgicas na pele e no sistema respiratório, causando sintomas como tosse e bronquite, por exemplo. (2,3,4)

Já a intolerância é uma reação adversa que envolve digestão, absorção e metabolismo de algum componente do alimento, no caso o açúcar do leite. A sensibilidade é uma resposta anormal do organismo, que pode provocar reações de mal-estar e, em alguns casos, sintomas parecidos com o da alergia. (2,3,4)

Recomendações

Dentre as principais recomendações para quem possui intolerância à lactose, Jaqueline destaca: “evitar o consumo da quantidade que gera sintoma e aprender a leitura de rótulos para identificar a lactose”.

Porém, isso pode ser uma grande dificuldade, pois grande parte dos alimentos com lactose não são identificados na sua composição. Essa obrigatoriedade ainda não está em vigor. (4)

De forma geral, as maiores concentrações de lactose podem ser encontradas no leite e no sorvete, enquanto nos queijos a quantidade encontrada é menor. (4)

Além disso, é importante também ler a bula dos remédios, porque vários deles incluem lactose em sua fórmula.

Tomando esses cuidados e mantendo uma dieta adequada com acompanhamento médico, a pessoa com intolerância à lactose pode levar uma vida absolutamente normal. 

*Esse artigo foi feito com a colaboração da nutróloga, Coordenadora de Ensino e Preceptora do Programa de Residência Médica em Nutrologia do Serviço de Nutrologia do Hospital Ernesto Dornelles e membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CREMERS, Jaqueline Costa Coelho (CREMERS 28812).

Referências

(1) TÉO, Carla Rosane Paz Arruda. Intolerância à lactose: uma breve revisão para o cuidado nutricional. Arquivos de Ciência da Saúde, Unipar, 6(3): set/dez, 2002. Disponível em: https://revistas.unipar.br/index.php/saude/article/view/1190. Acesso em: 26 de maio de 2020.

(2) Gasparin, Fabiana Silva Rodrigues et al. Alergia à proteína do leite de vaca versus intolerância à lactose: as diferenças e semelhanças. Revista Saúde e Pesquisa, v. 3, n. 1, p. 107-114, jan./abr. 2010 – ISSN 1983-1870 . Disponível em: https://177.129.73.3/index.php/saudpesq/article/view/1069/1045. Acesso em: 26 de maio de 2020.

(3) Missio, Alessandra; Quilci, Flávio Antônio. Intolerância à Lactose. Unidade Integrada de Gastroenterologia – Unigastro, São Paulo. Disponível em: http://eupossoisso.com/wp-content/uploads/2015/02/intolerancia.pdf. Acesso em: 26 de maio de 2020.

(4) BRANCO, Maiara de Souza Castelo et al. Classificação da intolerância à lactose: uma visão geral sobre causas e tratamentos. Rev. Ciênc. Méd., Campinas, 26(3):117-125, set./dez., 2017. Disponível em: https://seer.sis.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/cienciasmedicas/article/view/3812. Acesso em: 26 de maio de 2020.

Sobre o autor

Jornalista, possui especialização em Jornalismo Cultural e também atua na área de marketing de conteúdo e produção audiovisual. Registro Profissional MTB-RJ: 36167.